Imagem-nua e outros contos

(conto que escrevi no início do processo de criação)

Era uma vez uma linda princesa que vivia feliz em seu castelo com seu sapo de estimação. Por vezes, ouvia ditos populares que diziam que sapos podiam ser príncipes que haviam sofrido algum tipo de maldição ou até mesmo que podia usá-los para simpatias. Nunca cogitou a possibilidade de usar seu querido amigo, embora não negasse o interesse por tais histórias.
Já estando em época de se casar, começou a pensar que ficar o dia todo com seu sapo trancada no castelo não a ajudaria a encontrar seu príncipe. Resolveu agir, e começou a dar uns passeios pelo reino. Após algumas tentativas frustradas, certo dia encontrou uma velha senhora com quem desatou a conversar por horas. Sentindo confiança e abertura para desabafar suas angústias mais íntimas, resolveu colocar em pauta suas tentativas frustradas de encontrar um companheiro. A velha senhora, com toda a sabedoria de uma vida inteira vivida, começou a dar-lhe conselhos e a trabalhar a ansiedade da princesa. Continuaram a conversa num clima agradável e descontraído, e num dado momento, a princesa contou que tinha um sapo de estimação. A velha senhora disse que adorava sapos e convidou, então, a princesa e seu sapo para um chá da tarde em sua humilde cabana no meio da floresta. Na tarde seguinte, lá foi a princesa acompanhada de seu sapo ao encontro da bondosa senhora. Ao chegarem, se acomodaram e logo o chá foi servido. Após mais conversas e algumas goladas, a princesa começou a sentir um sono incontrolável e pediu à senhora, sua amiga, uma cama onde pudesse repousar. A senhora então levou-a a uma cama muito macia e confortável e deixou que adormecesse, dizendo para que ficasse tranquila que cuidaria do seu sapo enquanto descansava. Ao acordar mais disposta, depois de horas, a princesa, numa tentativa fracassada de uma bela espreguiçada, percebeu que estava amarrada na cama. Assustada, começou a chamar pela senhora, mas não obteve resposta alguma. Foi quando olhou para o chão do quarto e avistou alguns sapos que a olhavam concentrados:
- Olá, amigos, por acaso sabe o que me aconteceu? Onde está a bondosa senhora? E meu sapo de estimação?
- Princesa, precisamos te dizer: essa senhora é uma bruxa que vive por aqui. Há muito tempo ela vem tentando achar algum sapo que possa ser transformado em príncipe. Já tentou com vários de nós e todas suas tentativas foram fracassadas. Porém, com o seu sapo, ela conseguiu realizar o feitiço: o transformou num belo príncipe e partiu para o castelo para viver em seu lugar.
A princesa ficou muito assustada e sem saber como reagir. Percebeu então que os sapos subiram numa penteadeira que havia no quarto, pegaram um espelho e subiram na cama onde a princesa se encontrava amarrada.
- Princesa, temos uma última má notícia para você...
Aproximaram o espelho do rosto da princesa e foi quando ela percebeu, horrorizada, que estava com a aparência da bruxa.
- Sim, - disseram os sapos - a velha senhora roubou seu sapo e sua beleza! Mas não se preocupe, temos uma ideia para ajudá-la.
Os sapos desamarraram a princesa e esta, mesmo inconformada com o acontecido, mostrou-se corajosa e disposta a realizar o plano e recuperar sua vida.
Os sapos começaram fazendo apenas uma pergunta para a princesa:
- O que você gostaria que acontecesse com essa senhora que lhe fez tão mal?
A princesa, ainda não entendendo muito bem o sentido dessa conversa, respondeu sincera:
- Gostaria que ela virasse um mosquito e que passasse o resto da vida fugindo de sapos como vocês, que a devorariam com muito gosto!
Os sapos, então, pediram que a princesa escrevesse exatamente o que havia acabado de dizer num papel e, em seguida, explicaram o plano:
- Princesa, nossa meta é costurar a boca da bruxa com esse papel dentro. Da mesma maneira que elas costumam fazer com a gente quando desejam alguma coisa. Assim feito, você terá sua beleza de volta e poderá ficar com o príncipe pra você.
A princesa se animou com a ideia e logo partiram pela floresta, estudando os últimos detalhes para obterem sucesso com o plano. Era final de tarde, e ao chegarem no castelo, cada um já sabia muito bem o papel que teria de desempenhar. Um dos sapos subiu até os aposentos da falsa princesa, avistou uma xícara já preparada para o chá da tarde, e colocou um pouco da mesma poção que a bruxa havia usado para fazer a princesa adormecer. Três sapos ficaram com a função de aparecer no jardim enquanto o príncipe molhava as plantas e distraí-lo para que este não surpreendesse o que haveria de acontecer em seu quarto. A princesa, o primeiro sapo e os outros que ajudariam na próxima fase se esconderam atrás da cortina e ficaram esperando o momento em que a falsa princesa entraria no quarto para beber seu chá da tarde. Pouco tempo depois, a bruxa entrou no quarto, se acomodou e começou a beber o chá. Após algumas goladas, sentiu um sono incontrolável e resolveu repousar um pouco. Rapidamente e sem hesitação, amarraram-na na cama. A princesa pegou então uma linha e agulha e se dirigiu para a beirada da cama. Tirou de seu bolso o papel que havia escrito o destino da bruxa, abriu a boca da malvada, colocou o papel dentro, e começou a costurar. Ao final do último ponto, a bruxa se transformou em fumaça e logo depois notaram um pequeno mosquito perdido pelo quarto. Instantaneamente, a princesa seguiu em direção ao espelho da penteadeira e notou que toda sua beleza estava de volta. Após perceberem o sucesso da missão e comemorarem todos muitos felizes, viram que o mosquito, que nessa hora se mostrava bastante atordoado, saiu janela afora e não mais retornou.
A princesa agradeceu seus novos amigos sapos e os convidou para viverem felizes para sempre todos juntos, com ela e seu novo príncipe em seu castelo.
...
Mas o tempo se passou e a princesa não se mostrava feliz com a nova vida.
Seus amigos sapos quiseram então saber o que estava acontecendo. A princesa desabafou:
- Não acho que esteja feliz com essa nova vida. Esse príncipe não é meu príncipe, não fui eu quem conquistou. Penso que era mais feliz quando ele era meu sapo de estimação.
Os sapos amigos, entendendo a angústia inominável da princesa, propuseram-lhe um novo plano, muito semelhante ao outro.
A princesa então escreveu o que desejava num papel, adormeceram o príncipe, amarram-no, a princesa costurou sua boca com seu desejo dentro e, ao final do último ponto viram a fumaça e o príncipe voltando a ser o sapo, seu amigo de antes.
E agora sim, daí em diante, a princesa e seus muitos sapos viveram em seu castelo felizes para sempre.

FIM.